sábado, 20 de outubro de 2007

Planejamento

Com 15 anos, planejei minha própria morte. Bem, não a morte propriamente dita, mas o meu próprio enterro - com carro preto; belas mulheres loiras de óculos escuros; crianças de longas tranças e lágrimas nos olhos; chuva torrencial e guarda-chuvas abertos nas portas das limusines; cemitério discreto gramado, grama verde fumada pelos irmãos nas laterais com garrafas nas mãos, “excluídos”; música fúnebre de fundo na filmagem que passaria na Tv a noite com o Título: Mais um Louco se Vai.
Eu planejei. Eu estudei. Eu imaginei. Com 50 anos eu me mataria. Nada mais poderia aprender com essa idade.
Faltam 15 anos agora e a coragem se foi. Tornei a mim mesmo um bunda mole. “Nós somos todos bunda mole”, ouvi o Boca cantar. E o sonho? O Sonho da morte? E a igreja? A igreja da sorte? – Me pergunto toda noite.Planejei. Que merda! Como será?Hoje tomo cerveja, não leio a Veja, fumo de vez em sempre, nado imitando pedra, vivo no futuro que nem sei se virá, observo o passado passar em formato de piada.Grama verde. Sol a pino. Enterro de um menino. Meu irmão. - Na verdade não lembro.Ninguém é o mesmo depois de enterrar alguém do mesmo sangue. Ninguém é o mesmo depois de enterrar alguém que tem o sangue da própria filha.Meu destino? Uma cova rasa em algum lugar da fronteira, entre a sanidade e a loucura.
Foda-se o planejamento.

Manassés

10/2007

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