sábado, 29 de março de 2008

Objetivo Principal

Andei chorando pelo banheiro. Na verdade, estava parado, e para ser mais preciso; sentado.
Estava pensando num filme que assisti. Na verdade que vivi... em terceira pessoa, pois me recusei a acreditar que aquilo existisse,e, principalmente eu pudesse atravessar um cenário real de um filme, até então virtual.
Durante um mês inteiro, rodei por terras estranhas. Pelas entranhas de parte de minha terra. Sempre soube como se enterra um sentimento. Como se faz para não sentir através dos olhos, interrompendo o canal que liga esse ao coração, ou ao cérebro, para ser mais material e específico. Como se transforma em material objetivo, todo o material subjetivo, endurecido como cimento? Transformar um cigarro em um lamento; lágrima em fumaça? Na estrada sempre atento controlando o choro, a procura de um novo morro, para sentir com o tato a água gelada da cachoeira desconhecida e respeitada...a pinga tomada pelo gargalo, inteira.
Fugindo do que sempre procurei, duvidando que um dia encontrasse. Mais pelo medo do encontro, temendo o abraço.. temendo o embaraço...parado...sentado....chorando.
Cerveja no copo, água no corpo...gelada..loira..pelada. Desconhecida e respeitada.
Seios fartos...peitos quentes....batalhão de crentes.
Terras, entranhas. Nunca, Terra. Não enterra, aquilo que aqui se encerra.
Lágrima que vira fumaça. Lamento ter perdido o material; cimento. Lamento.
Um filme virtual visto no azulejo do banheiro, sem cheiro de traça, sem graça.
Mentindo, eu vivi?
O objetivo: chorar pelado no chuveiro.

....Andei chorando pelo banheiro.


Manassés
01/03-03/08

sexta-feira, 21 de março de 2008

Pegurrero Atômico

Passei em casa para um banho rápido, porém acabei tomando um chá preto e ouvindo uma musica queimada num cachimbo industrial qualquer. Como não tinha o que fazer já havia dois segundos, resolvi inventar um Pegurrero de Fermat, baseado em dois botões de uma calça velha e em um naco de madeira de lei turca.
Em 5 minutos criei meu principal invento para surpresa da minha própria inteligência, e de cima da ponte sobre o rio Kuwait, o observava planar e arrastar-se ao mesmo tempo. Por horas fiquei imaginando o quanto meu pai, o Grande Manasses I diria de mim. Que palavras proferiria tão grande sábio, ao ver seu próprio filho único, primogênito de uma linhagem de 17 rebentos? Que era louco esse filho, por ser tão ousado? Que sua garganta era de ferro, por não enferrujar na chuva?
Divagava e pensava naquele que tinha sido meu único gerador, quando fui interrompido por um negro de sotaque soluçante – percebi depois, que não era sotaque, mas ele chorava de tristeza – oferecendo 1milhao de sucres Armânicos por meu protótipo – o único Pegurrero construído e movido a milho de pipoca.
Recusei prontamente, com uma fineza que me fôra ensinada pela tribo de Jah, em ocasião de férias de inverno na baixa África.
Na verdade, a oferta era muito generosa, tinha de admitir, porém desconfiava que a Armânia tinha sido consumida pelo fogo do inferno havia pelo menos dois séculos. Com quem eu trocaria a moeda então, se os Armânicos estavam em poder do diabo, e eu não estava disposto a fazer uma viajem sem volta a casa do capeta? Claro, minha conclusão fora óbvia; a moeda era falsa.
Inconformado por minha sutil desconfiança, meu interlocutor reforçou a oferta acrescentando duas romãs e um exemplar nunca antes editado, do Livro dos Mortos Argentinos. Como se não bastasse, ofereceu-me um pegurrero atômico fabricado em 1833.
Ao perceber o grau de desespero do austríaco (sem que ele percebesse li seu passaporte), tive certeza o quão estive errado ao julgar meu interlocutor trapaceiro, e pedindo desculpas, peguei carona na primeira tartaruga tailandesa que passou puxando um carrinho de transporte. – não me despedi, se me lembro bem.
Enquanto fugia, e ainda sem acreditar em proposta tão indecente, quase cometi suicídio impensado ao lembrar que teria de enfrentar a ira de Fermat por ter largado o pegurrero sozinho em tão revoltosas águas. Não tive duvidas, “eu criei, eu destruo”, pensei. Rapidamente puxei a tampa do ralo, e fiquei observando-o girar em torno do próprio eixo, até escoar todo hidrogênio da água encanamento abaixo. – A ponte sobre o rio, joguei na lixeira; sem que ela percebesse.
Foi o fim da esperança da humanidade e destruição sem testemunhas daquela que foi a maior invenção, após Darwin ter inventado a história do macaco.
Desolado e me sentindo mal e burro, voltei para sala a tempo de ouvir a última parte da última musica que queimava no cachimbo na boca do preto velho de jaqueta branca que pedia esmolas na porta da igreja: “Fermat´s Last Theorem”.
Já era noite alta, e o chuveiro estava ligado.

Manassés
Orig. 9/9/2003

sábado, 15 de março de 2008

Não sei que é o autor da frase abaixo, porém resolvi adiciona-la e compartilhar com vocês tamanha criatividade. Com certeza quem respondeu por escrito a pergunta numero 04, frequenta alguma Terra do Nunca.



Manassés
15/03/2008

quinta-feira, 13 de março de 2008

Lembrança de uma Esperança Morta

Desde os tempos imemoriais, a Razão, senhora dos Pensantes e rainha dos Racionais, entra em conflito com o Sentimento quando tenta entende-lo ou mesmo muda-lo. O epicentro desse conflito é o coração, que sendo disputado pela Razão, torna-se objeto de diversão do Destino.

Imutável, imortal, misterioso e desconhecido, o Destino é o grande Chefe de todas as tribos. O Tempo, o seu irmão gêmeo, (há quem diga que um não viveria sem o outro), é encarregado de fazer com que o velho conflito entre Razão e Sentimento venha à tona de vez enquando, pois isso alegra o seu irmão gêmeo e senhor. É encarregado também de garantir que o conflito se resolva e acabe bem e em equilibrio, para novamente começar tudo de novo algum Tempo depois.

Rei supremo de todas as tribos Irracionais, o Sentimento, designa a Tristeza à assaltar minha mente e sequestrar meu coração. Com auxilio da Pressão e após uma ação rápida, a Tristeza obtém êxito,e, com ajuda do Pensamento, o transporta para algum lugar do passado, trancando-o em cativeiro numa Lembrança. O leva para a cidade da Saudade, que é intransponível para qualquer que seja a Razão.

A Melancolia, responsável por negociar o valor do resgate com a Razão, não tem muita sorte em sua missão, pois esta (no auge da sua racionalidade) não admite ser manipulada,(ainda que em vão), por um capricho do Destino. Sabendo que o Sentimento não a perdoará por não satisfazer seus desejos, sinto que a Pressão vem em socorro da Melancolia, que fica mais forte cada vez que a observo. Espero quieto pelo Tempo, que se encarregará de apaziguar os animos… ao menos espero. E o equilibrio será novamente recuperado. Ao menos espero, apesar de ter perdido a Esperança.

A Razão que me domina, considera-se dona da mente e do coração, e preferia não ter conhecido esse último. Não suporta ve-lo preso numa Lembrança, em uma Esperança que sabe estar morta… isso a torna fraca… faz com que ela renda-se ao Sentimento, seu grande rival. O Destino diverte-se.

Não há vencedores a longo prazo, pois o Tempo permite que hora a Razão vença, hora o Sentimento. Não sei quem vencerá dessa vez…somente o Tempo poderá dizer.

A Pressão aumenta e cresce, chegando a esmagar o Pensamento, tentando impedir que este faça qualquer tipo de transporte do coração ou da mente. Este, que é totalmente neutro servindo hora a Razão hora o Sentimento, (orgulha-se de sua liberdade), sempre escapa levando a mente,e, invariavelmente a deposita ao lado da Razão, que nem sempre percebe sua presença.

Posso perceber o esforço feito pela Melancolia na tentativa de satisfazer o Sentimento… perçebo também que não a agrada ver o coração preso, sem Esperança…. Tento imaginar o que o Destino separou pra mim dessa vez….O Tempo flui, enquanto a cidade da Saudade torna-se ainda mais apertada. Sinto uma dor quase física no peito… o coração não suporta mais ficar trancado numa Lembrança.

Manassés
07/2002

sábado, 8 de março de 2008

08 de Março de 2008. Dia Internacional da Mulher.

Mesmo não tendo contato freqüente com vocês, agradeço Aquele que vive desde sempre por permitir que eu continue aprendendo ao lado de mulheres tão especiais: Importantes, no que são como pessoa e como profissionais; Belas, cada uma a seu estilo; Inteligentes, cada uma em sua missão; Competentes, cada uma em sua função; Divertidas ao seu próprio modo, mesmo em horas complicadas; Bravas, quando entendem ser necessário e para desespero de nós homens que raramente entendemos os motivos; Dedicadas, sabendo a dose certa entre ser amiga, profissional, mãe, menina, esposa, colega, namorada....MULHER.

Obrigado por existirem também nesse dia – gosto de acreditar que todos os outros dias também são seus.

Feliz Dia da Mulher!!

Manassés

sábado, 1 de março de 2008

Demissão

São Paulo, 16 de Julho 2007


À Fxxxxx

Prezados senhores, por motivos pessoais, venho por meio dessa pedir meu desligamento na data de hoje dessa conceituada Faculdade, do cargo de Professor.
Em momento oportuno entregarei minha carteira profissional para os devidos procedimentos burocráticos.

Manassés