quinta-feira, 11 de outubro de 2007

A última Viajem a Terra do Nunca

Em minha última viajem a Terra do Nunca, conheci um Cara que era a cara da própria terra que naquele segundo sustentava meus pés naquela manhã de outono: Pálido. Convidou-me a sentar em uma pedra ao longo do longo caminho que cruza de sudeste a leste, que ao chegar todos os viajantes podem admirar o único templo dedicado a Deusa Loucura sendo iluminado pelo sol da manhã (desde que seja de manhã e haja sol). Sem cerimônia, me contou uma história inacreditável, que por ser eu incrédulo à própria vida, só me restou acreditar em diferente experiência de vida em morte. Tenho de admitir que me pareceu à primeira vista um fugitivo de um hospício qualquer, mas ao longo da conversa, ficou claro que minha dúvida era totalmente infundada, pois o tal Cara não tinha somente cara de fugitivo, ele era a própria fuga em pessoa. Contou-me que tinha construído um malicômio em seu próprio cérebro, e que para lá, contra sua vontade, era mandado toda sorte de religiosos, físicos e pensadores. Confidenciou-me que havia cometido suicídio à alguns anos, simplesmente para testar a teoria que não há vida após a morte, mas como eu mesmo podia contemplar e confirmar, a teoria ele tinha derrubado, com sua própria voz e cérebro. Um ser que se apresentava como humano, era a transformação de um ser que se achava humano, antes da transformação do processo que ele chamava morte. Demasiadamente humano para minha condição de insano.

Com alguns anos a menos que eu, o Cara que recusava a me dizer seu nome, falava gesticulando e com uma empolgação que me pareceu familiar. Ao longo da nossa longa conversa, pude comprovar que meus anos de estudo como professor nada me haviam acrescentado sobre teorias post-morten ou mesmo o sentido (ou falta dele) da própria morte. Contra minha aceitação, e com um pouco de sorte, meu interlocutor poderia estar comprovando debaixo do meu nariz, uma teoria a muito por mim rejeitada.

Confuso, simplesmente neguei. Simplesmente não fazia sentido. Simplesmente eu não mais acreditava. Eu não aceitava. Não havia viajado anos luz longe do corpo-consciente, somente para aprender sobre um assunto que não mais entendia, por não menos aceitar a própria consciência da vida. A própria presença do Cara, era a comprovação que eu não podia estar ali, pois se ele estava morto e eu tinha certeza estar vivo, um de nós estava no lugar errado ou estava mentindo. Isso não se encaixava. Não tinha sentido.  Um ex-rei não mente nunca, portando, ele estava no lugar errado.

 

Bem, nesse ponto, devo-vos uma explicação, mas por eu ter acordado, fica para uma próxima ocasião.

 

Manassés

Fev/2007

 

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