quinta-feira, 13 de março de 2008

Lembrança de uma Esperança Morta

Desde os tempos imemoriais, a Razão, senhora dos Pensantes e rainha dos Racionais, entra em conflito com o Sentimento quando tenta entende-lo ou mesmo muda-lo. O epicentro desse conflito é o coração, que sendo disputado pela Razão, torna-se objeto de diversão do Destino.

Imutável, imortal, misterioso e desconhecido, o Destino é o grande Chefe de todas as tribos. O Tempo, o seu irmão gêmeo, (há quem diga que um não viveria sem o outro), é encarregado de fazer com que o velho conflito entre Razão e Sentimento venha à tona de vez enquando, pois isso alegra o seu irmão gêmeo e senhor. É encarregado também de garantir que o conflito se resolva e acabe bem e em equilibrio, para novamente começar tudo de novo algum Tempo depois.

Rei supremo de todas as tribos Irracionais, o Sentimento, designa a Tristeza à assaltar minha mente e sequestrar meu coração. Com auxilio da Pressão e após uma ação rápida, a Tristeza obtém êxito,e, com ajuda do Pensamento, o transporta para algum lugar do passado, trancando-o em cativeiro numa Lembrança. O leva para a cidade da Saudade, que é intransponível para qualquer que seja a Razão.

A Melancolia, responsável por negociar o valor do resgate com a Razão, não tem muita sorte em sua missão, pois esta (no auge da sua racionalidade) não admite ser manipulada,(ainda que em vão), por um capricho do Destino. Sabendo que o Sentimento não a perdoará por não satisfazer seus desejos, sinto que a Pressão vem em socorro da Melancolia, que fica mais forte cada vez que a observo. Espero quieto pelo Tempo, que se encarregará de apaziguar os animos… ao menos espero. E o equilibrio será novamente recuperado. Ao menos espero, apesar de ter perdido a Esperança.

A Razão que me domina, considera-se dona da mente e do coração, e preferia não ter conhecido esse último. Não suporta ve-lo preso numa Lembrança, em uma Esperança que sabe estar morta… isso a torna fraca… faz com que ela renda-se ao Sentimento, seu grande rival. O Destino diverte-se.

Não há vencedores a longo prazo, pois o Tempo permite que hora a Razão vença, hora o Sentimento. Não sei quem vencerá dessa vez…somente o Tempo poderá dizer.

A Pressão aumenta e cresce, chegando a esmagar o Pensamento, tentando impedir que este faça qualquer tipo de transporte do coração ou da mente. Este, que é totalmente neutro servindo hora a Razão hora o Sentimento, (orgulha-se de sua liberdade), sempre escapa levando a mente,e, invariavelmente a deposita ao lado da Razão, que nem sempre percebe sua presença.

Posso perceber o esforço feito pela Melancolia na tentativa de satisfazer o Sentimento… perçebo também que não a agrada ver o coração preso, sem Esperança…. Tento imaginar o que o Destino separou pra mim dessa vez….O Tempo flui, enquanto a cidade da Saudade torna-se ainda mais apertada. Sinto uma dor quase física no peito… o coração não suporta mais ficar trancado numa Lembrança.

Manassés
07/2002

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