A Fantasia

Pelo alto de seu pequeno braço, pende um saco vermelho, agitado na ponta dos pés. Vermelho sangue, com volume de 3 litros aproximadamente. É anunciada uma segunda fantasia, para uma festa que estava preste a acontecer em seu quarto. Os convidados eram todos bonecas de pano, de plastico ou de pau. A primeira boneca de 1,0m, me é apresentada fantasiada de abóbora - afinal, a casa estava toda enfeitada pelas paredas, e na mesa da sala estava "caveira amarela" que, quando cheia pesava 5kg. Foi a primeira da série.

- Advinha do que a minie grande fai se fantasiar?

É obvio, e claro.Eu estava concentrado em uma leitura sobre epstemologia, e me surpreendi com a velocidade do meu cérebro em trocar de estado, e que, além de observar cada detalhe que me era mostrado, ouvir e entender a pergunta que me estava sendo feita. Por frações de segundo sorri para mim mesmo estasidado com minha capacidade mental; tinha certeza que nenhum outro homem poderia pensar mais rápido. Bati sonoras palmas para mim mesmo.

- De papai noel!

Quase gritei, esperando a cara de felicidade da minha pequena, por eu ter acertado sua charada - Quase gritei de tão estasiado. Estava muito na cara a resposta, e acredito que ela está fazendo isso para me deixar contente. Mas tenho certeza que nem mesmo ela, assim como eu, poderia esperar resposta tão rápida. Como um tiro da tropa de elite, rápido e certeiro, meu cérebro e boca cuspiram a resposta do bom velhinho.

- Não papi! De maçã, é logico. Olha a cor do saco !?!?!?

Com essa voz doce saindo de uma carinha amável e meio frustada por eu ter errado algo tão fácil, me deixa sem graça e pensativo. Como eu sou idiota. Como poderia achar que tinha pensado tão rápido em algo tão certo? Como pude faltar com a humildade e trair a lealdade com a certeza? Não era possível! Tinha de ter algo errado. Eu um ex-rei, ser traido por mim mesmo de forma tão estúpida?

Comecei a rir e pensar. Como ficamos mais idiotas a medida que crescemos. É impressionante nossa capacidade de falar besteiras de forma tão segura. E ficar contente por isso.
A festa continuou a medida que as charadas se repetiam. 5 ao todo. Ouvi o teclado tocar Beethoven, enquanto imaginava os bichos de pelucia e bonecas dançando. Jardineiro, abóbora, com pijama; "olha a toca, é por isso que essa é roupa de dormir".

Minha leitura, virou essa escrita que agora escrevo. Nem lembro mais qual era o tema do assunto que lia. Tive certeza que meu cérebro voltou a velocidade normal.Na próxima festa à fantasia, irei dento de um saco daqueles que o papai noel carrega pelos céus no dia de natal.


Manassés
21/10/2009