domingo, 25 de novembro de 2007

O Cantador de Histórias

Certa vez conheci um cara que escrevia muitas histórias cantadas .
Cantava sempre as mesmas histórias de forma diferente.
Cantava alegria, tristeza, certeza, coração, cérebro, barriga e estomago .
Escrevia microfone, microfonia, cacofonia, sinfonia e sobre a Maria.
Viajava quando estava no palco em viajem - não importava o tamanho nem altura .
Na vida, representava personagens, pastagens, paisagens e auto-peças.
Contagiava a todos quando cantava – do padre ao preto velho .
De cabeça, de três era o irmão mais velho – de longe, era o filho mais estranho.
Gostava de cerveja gelada, de feijoada em prato de estanho, e mulher pelada.
Não tinha hora nem tempo ruim, mesmo quando um furação se aproximava do seu coração.
Via o mundo por um ângulo diferente, e dizia que só conhecia a felicidade quando se olhava o fundo da garrafa - de milho.
Fumava de tudo que aparecia – dizia que havia aprendido a viver com uma “tia” de Buchecha rosada - tinha dois pais e dois filhos que não fumavam nada.
Morava no terceiro andar de um prédio construído com as próprias mãos, e dava aula de música no porão.
Senti saudades quando morreu – já disse isso antes em carta ao Alceu.
Ainda lembro do último show; o sorriso, a calça amarela, nariz de palhaço, o violão....
Ainda lembro algumas conversas, sem pressa em um boteco qualquer; extra terrestre, piada sem graça, mulher, churrasco, tabasco, música, Santo Mé, futebol.....
Ele se foi... foi-se embora - mas seu corpo ainda continua com a alma nua, a en-cantar-nos com sua presença.
Esses dias em uma conversa, me fez algumas perguntas sem perguntar nada:

“Quem disse que escrever vale a pena?”
“Quem disse que escrever é sofrer?”
“Quem disse que dizer o que quer é escrever o que pensa?”
“Quem disse que escrevo o que penso ou que sofro quando escrevo?”

Ainda espero encontrar o cara de novo, para cantar as histórias que tantos ainda não conhecem.
Ainda espero ouvi-lo novamente - mas Sem Pressa Meu Nego.

Manassés
11/2007

Um comentário:

Anônimo disse...

Porra Joel, você é foda!

Valeu irmão!

Muitas águas ainda estão por vir. Quem disse que despedida é para sempre?

Forte abraço e aguardo o próximo copo...sempre!

Bucha Morales